Da voz ativa para a passiva: mudando o foco intencionalmente

Você já percebeu que, dependendo de como você configura seu corretor gramatical, ele "corrige" uma frase de voz passiva sugerindo que você a reescreva em uma voz ativa? Eu me perguntei o que aconteceria se todos começassem a seguir essa sugestão sem parar e refletir se essa é uma mudança que eles querem fazer.

O que perderíamos ao mudar de uma voz passiva para uma voz ativa?

Hoje, uso essa analogia para ilustrar a oportunidade que perdemos quando focamos apenas no ator e nas ações.

O que acontece quando mudamos nossos olhos para o receptor e o processo?

A busca por um sujeito, o dono da ação, parece quase automática em nossa fala. É como se focar no sujeito, seja para elogiar ou culpar, nos trouxesse alguma resolução, mas será que traz mesmo?

Textos antigos e artigos científicos costumam usar voz passiva. Mas se começarmos a falar em voz passiva o tempo todo, as pessoas provavelmente ficarão irritadas e algumas nem entenderão do que estamos falando. Isso seria apenas um estilo linguístico? Acho que entender como chegamos aqui é um tópico para outra conversa, uma vasta com a qual não estou familiarizada.

Meu ponto é que podemos estar involuntariamente e inconscientemente mudando para uma sociedade mais egocêntrica quando nossas palavras focam demais na ação e nos atores.

E se intencionalmente mudarmos nosso foco para o receptor e o processo? É exatamente isso que alguns usos da voz passiva nos oferece.

Às vezes, o sujeito é implicitamente conhecido ou irrelevante para a mensagem:

- Erros foram cometidos (não importa por quem, e o foco está nos erros) - mudando da culpa para a melhoria-

- Eles foram abençoados (implicitamente por Deus, e o foco está em quem recebeu a bênção e o ato de abençoar) -

- As células foram tratadas para infecção e deixadas para descansar por três dias na incubadora (adicionando fluxo a uma descrição do processo) -

Às vezes, é intencionalmente um mistério, então chama a atenção do leitor:

- A janela foi aberta de repente (por quem? Este é o mistério) -

A voz passiva transmite implicitamente a ação do sujeito, mas intencionalmente foca no receptor. Isso me faz pensar o quão difícil é para algumas pessoas recuarem e receberem em vez de dar. Receber requer humildade, o que geralmente não é associado à força em nossa sociedade.

Estamos tão quebrados que as palavras são mais potentes para nos envolvermos conosco e com as pessoas do que a humilde disposição de sermos transformados pela troca do dar e receber? Somos tão orgulhosos assim?

Reflexão constante e consciência profunda são necessárias para se libertar do fluxo automático de autopreservação e avançar em direção à centralização no outro e, assim, à transformação coletiva.

Convido você a experimentar intencionalmente mudando suas frases para voz passiva. Talvez você queira enfatizar um processo em vez do sujeito ou descrever uma observação poeticamente. Talvez você queira se concentrar no destinatário e no ato de receber. Apenas brinque com isso e veja o que acontece! Maravilhas podem acontecer!

Seja maravilhoso,